O meu primeiro grande desafio para 2017 foi a Zurich Maratona de Sevilha.
Após a Maratona do Porto 2016 (prova que não correu muito bem), surgiu a hipótese de participar na Maratona de Sevilha, utilizando a inscrição de uma amiga que por boas razões (gravidez) não pode estar presente.
Após a Maratona do Porto pensei em preparar convenientemente a maratona seguinte, no entanto nem tudo corre como pensamos e durante o mês de dezembro poucos foram os treinos devido a fortes dores de costas. Vem o mês de janeiro e as dores desapareceram começo a treinar mais regularmente e participo no Cross Laminha, prova que até me correu bastante bem e onde não senti grandes dificuldades, só que no final da prova enquanto alongava fiz uma pequena rotura na coxa direita, mais duas semanas sem treino e com tudo isto faltavam 3 semanas para a maratona de Sevilha. No inicio de fevereiro para iniciar a preparação faço um treino de 1 hora e acabo com bastantes dores de gémeos, pensei que a maratona já tinha passado à história, mais uns treinos de ginásio e mais uns treinos de 40 minutos, chega o último fim de semana antes da prova, faço então o meu treino mais longo de preparação para esta maratona, foram 15 km em 1h15.
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Parti então na sexta-feira para Sevilha com alguma incerteza, mas com a convicção que era possível terminar mais uma maratona.
Viagem tranquila na companhia da Mister Otília, chegada a Sevilha fomos à feira da Maratona, onde encontrámos alguns portugueses e amigos, uma vista de olhos pelos expositores e chegou a hora de irmos para o Hotel.
Após nos instalarmos equipamo-nos e fomos fazer o último treino para libertar as pernas, aqui tive a companhia da Otília e do amigo Rui Laranjeiro, em seguida uma das tarefas mais difíceis encontrar um local para comer. Durante o treino tínhamos passado perto do hotel por alguns estabelecimentos que servem comida, por isso decidimos ir a pé... andámos, andámos, andámos e andámos e não havia nada onde se pudesse comer comida.... por fim lá decidimos para num local onde serviam umas tapas e uns grelhados tudo acompanhado só com pão. No final tivemos de fazer o mesmo caminho para o hotel, quando lá cheguei tive de ir ao reforço das bolachas.
Sábado, acordámos, pequeno almoço e toca a despachar para aproveitar mais um dia em Sevilha. Gosto bastante de Sevilha, esta foi a quarta vez que participei na maratona de Sevilha mas já por outras vezes fui à cidade. Sevilha está cheia de turistas e só pelas sapatilhas sabemos quais são os que vão participar na maratona, eu e a Otília fazemos um passeio junto à Praça de Espanha, à Torre del Oro, à Catedral e ao bairro judaico, às 13h30 estamos novamente na feira da maratona para o almoço de massa oferecido pela organização, mais uma voltinha pelos expositores e optámos por regressar cedo ao hotel, mas mesmo assim regressámos com uma valente dor de pernas.
No hotel faço um banho de imersão, coloco um gel frio nas pernas e faço uma soneca, pelas 19h00 decidimos ir à procura (desta vez de carro) de um local para comer uma massa, fomos até ao El Corte Inglês e toca a atacar na lasanha, regresso ao hotel, últimos preparativos e às 22h00 já estava na caminha.
Domingo, alvorada às 6h00, a noite não foi perfeita mas também não foi má de todo, uma banhoca e toca a equipar, às 6h30 já estava a tomar o pequeno almoço e às 7h00 estavamos no autocarro que nos levaria até à partida, durante a viagem começa a chover, chegamos ao estádio e o vento também vem ajudar à festa. Entregamos o saco à organização onde temos a nossa roupa para o final da prova e deslocamo-nos para a partida. Combino com a Otília a estratégia para nos encontrarmos ao longo do percurso "Eu vou correr sempre pelo lado direito do percurso, tenta estar numa zona onde não esteja muito publico e com a bandeira de Portugal, se possível aos 8km, 14km, 28km e 36km"
Entro na zona de maratonistas das 3h30 às 3h45, fico junto aos balões das 3h45 e penso que seria excelente se conseguisse ir com eles até ao fim, com tão pouco treino o objectivo era mesmo acabar e se possível fazer melhor que no Porto.
Partida às 8h30 e lá vai ele todo contente, o ritmo não é forte mas sinto-me desconfortável, parece que vou preso, opto por ficar 50 metros atrás dos balões para evitar a confusão e lá vou eu até que aos 9km lá está a minha Otília, faço sinal que está tudo bem e sigo, a temperatura estava ideal e não chovia eu tinha partido com uma t-shirt técnica por baixo do singlet é então que faço uma manobra de striptease e malabarismo e fico apenas com a singlet, aos 14km volto a ver a Otília entrego-lhe a t-shirt técnica e volto a dizer-lhe que está tudo bem.
Os quilómetros vão passando e começo a sentir-me mais solto e a entrar no ritmo a rondar os 5'15/km, ainda antes da meia maratona decido passar para a frente dos balões das 3h45 e a minha consciência começa logo a trabalhar "mas porque é que não te deixas ficar aqui no balão", "vais dar o estoiro", "a prova ainda não acabou, a maratona só começa depois dos 30km", "nunca mais ganhas juízo", mas mesmo com tudo isto lá vou indo até que aos 25km sento um gémeo a ficar tenso (lá vem a minha consciência a reclamar que tinha razão), paro e baixo as perneiras, recomeço a correr a um ritmo mais lento e a tensão desaparece. Junto ao posto de abastecimento dos 25km estava uma ambulância com elementos a aplicar spray, volto a parar e peço spray nos gémeos, recomeço a correr e as tensões desapareceram, um pouco mais à frente aos 28km volto a encontrar a Otília, faço-lhe sinal para me dar o spray que está com ela e sem parar ela acompanha-me em corrida e dá-me o spray que me acompanhou até final, digo-lhe que está tudo bem, que tinha tido alguma tensão nos gémeos mas que agora estava bem e prossigo, ela ainda tem tempo de me dize que vai para a zona da Praça de Espanha, para eu não ir muito depressa que ela ía demorar cerca de 20 minutos.
Aproximo-me dos 30km e surpreendentemente as pernas continuavam bem, o ritmo era constante e não estava a ter quebra, depois dos 30km começa-se a ver muitos atletas a andar, a alongar e com cãibras, ainda dei assistência a um atleta espanhol que teve uma cãibra tão forte que ficou com uma perna de pau (nada que não me tenha já acontecido também em outros eventos). Os quilómetros vão passando e já estou nos 35km, entro no Parque Maria Luíza e pouco depois na Praça de Espanha, muito público e muitos incentivos, começamos finalmente a acreditar que nada nos tira mais esta maratona (nem que seja a andar até ao final), ao sair da Praça de Espanha volto a encontrar a Otília, digo-lhe mais uma vez que está tudo bem e que nos encontramos no final. Nesta fase da prova vou ultrapassando muitos atletas, o público quase que nos empurra para a meta, eu vou fazendo contas de cabeça e mesmo que desse o estoiro iria acabar abaixo das 4h00. Mas as pernas continuavam bem, algumas dores nos quadricípites mas nada de especial e já estou nos 40km, então forço mais um bocado (mas penso que o esforço foi mais mental que em ritmo) e vou-me aproximando da meta, agora o percurso é diferente para melhor, depois da ponte que nos traz de regresso à ilha da Cartuja, seguimos directamente para o Estádio.
Entrada no estádio, e um descarregar de emoções, depois de tantas dúvidas de tantos contratempos, fazer uma maratona em 3h41e não estar todo amassado parece mentira mas não é.
Um agradecimento à Cristina que me proporcionou mais esta aventura, ao Rui o companheirismo e um agradecimento muito especial à minha Otília que me deu força e inspiração para completar mais uma maratona (e com isto tudo acabou por fazer 18km)