Tento ver como vai estar o dia, mas a minha casa está perdida num nevoeiro cerrado que me faz duvidar se vou usar a camisola nova de alças do C.A.S.P.A./Green Roc.
Parto para uma das mais curtas distâncias que tenho que fazer para chegar à linha da partida, porque desta vez é só atravessar o Tejo.
Chego a Almeirim e os atletas da equipa já estão juntos, bem dispostos, confiantes, a contar histórias antigas, a rir e a fazer rir. Depois da invasão do WC do shopping e de uma longa luta por ter um sinal de GPS, sem dar por isso, já estou a correr junto do casalinho Otília e Brito, a cumprimentar amigos, a pensar no que ainda faltava e a correr contra a tática combinada de fazer os primeiros quilómetros devagar… Lá vamos nós bem dispostos estrada fora com as palavras de incentivo só vistas numa prova em Almeirim: “sopa da pedra”, “bifanas”, “especialidades ribatejanas”, “vinho da casa”… A pensar no troféu da sopa no final, os primeiros 5km passaram num instante e partimos para a lezíria do Tejo, rumo a Alpiarça, pelo percurso plano algo inclinado… e nunca mais chegamos a Alpiarça. Chegados à rotunda penso “agora é só voltar para trás” e afinal ainda vamos lá mais à frente ao outro lado da lagoa… agora sim, volto para trás e vejo que descolei um pouco dos meus sócios de equipa e corro agora sozinho, estrada fora rumo a Almeirim. De repente, o meu
pé está um pouquinho dormente e eu penso “queres ver?”. Depois uma pequena dorzinha do lado esquerdo e eu penso “queres ver?!” Pronto, oficialmente lesionado com dores constantes a cada passo e ainda faltam uns 4000 passos para o fim!
Felizmente, Almeirim surge no horizonte e depois mais perto, mas ainda temos que ir dar uma volta lá ao fundo… Oiço uns passos fortes e umas palavras de ânimo, de um senhor que corria no escalão M60 (no mínimo) e deixo de o ver rumo à meta em alta velocidade. A minha meta agora não tem nada a ver com a 1h43 que me propus, mas chegar ao fim e fazer o que a perna esquerda
pedia há muitos passos atrás: parar, gritar, torcer-me, contorcer-me…De repente vejo a meta e uns metros antes vejo os meus filhos lindos e puxar pelo pai. Algumas lágrimas de alegria, corro até eles, toco-os e chego à meta com a frescura com que tinha começado a prova. Depois pedem-me o chip que tinha nas sapatilhas e tenho que me baixar… ui… lá se vai a frescura…
O resto foi sofrer até comer a sopa da pedra!
Venha o próximo empeno, se faz favor!